Universidade Federal de São Carlos -
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Disciplina Leitura e Produção de Textos
Resenha de Artigo Acadêmico
As
Mudanças Climáticas e a Questão Energética
Autor: Arnaldo César da Silva Walter
Instituição:
DE/FEM/UNICAMP. Universidade Estadual de Campinas.
Cidade Universitária
Zeferino Vaz - Barão Geraldo – Campinas – SP.
Publicação do artigo em: Revista MultiCiência, pág.
29 a 47, Campinas, maio de 2007.
Resenhador: Álaze Gabriel do Breviário.
RA: 561.762.
●
Apresentação:
O artigo
intitulado “As Mudanças Climáticas e a Questão Energética” é de autoria de Arnaldo
César da Silva Walter, graduado em Engenharia Mecânica pela UNICAMP (1981),
mestre em Engenharia Mecânica pela UNICAMP (1987), doutor em Planejamento de
Sistemas Energéticos pela UNICAMP (1994), com três pós-doutoramentos em
Engenharia Mecânica, sendo um realizado no Brasil e dois no exterior. Segundo
dados informados pelo próprio autor em seu currículo da plataforma Lattes
(CNPQ), Walter é, atualmente, professor doutor da UNICAMP e atua principalmente
nos seguintes temas: biomassa, cogeração, energia elétrica, meio ambiente e
energia.
O artigo em
questão foi recebido para avaliação em 08/01/07, aprovado em 05/03/07 e
publicado na Revista MultiCiência, de Campinas, em sua oitava edição, em maio
deste mesmo ano (dois meses após sua aprovação), da página 29 à página 47. O
mesmo foi organizado de acordo com o seguinte o roteiro: a) resumo; b)
introdução; c) considerações finais; e d) referências.
● Descrição:
O autor resumo
o artigo enfatizando a significativa contribuição das etapas da cadeia de
suprimento energético nas emissões de gases de efeito estufa ressaltando, com
base em fundamentos teóricos e empíricos – conforme se percebe posteriormente
no decorrer de todo o artigo – a diversificação da matriz energética e a
mudança de padrões de consumo como as únicas alternativas para se reduzir as
emissões mencionadas para patamares razoáveis, sem sacrificar a qualidade de
vida da população mundial.
Na introdução,
o autor se respalda em um estudo realizado pela Agência Internacional de
Energia, afirmando que se faz necessário um profundo processo de transformação,
com diversificação da matriz energética e mudanças de hábitos de consumo, a fim
de que se consiga estabilizar as emissões e a concentração de GEE dentro de
patamares razoáveis. Ao explanar com maestria sobre a temática, Walter destaca os
seguintes dados estatísticos (Walter, 2007, p. 30):
1.
Em 2004 foram estimadas em 49 GtCO2-eq
(bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente);
2.
Enquanto no período 1970-2004 as emissões totais de
GEE cresceram 70% (de 28,7 para 49 GtCO2-eq), no mesmo período as
emissões associadas ao suprimento de energia cresceram 145% - individualmente, o
maior crescimento -, enquanto as emissões associadas aos transportes cresceram
120% - o segundo maior crescimento.
3.
A Noruega, a Islândia, o Canadá, a Suécia e a
Finlândia, nações desenvolvidas, com elevadíssimo IDH (>0,9) e consumo per
capita de eletricidade muito alto, apresentam, em comum, além das condições
climáticas (por exemplo, invernos rigorosos), indústrias energo-intensivas (por
exemplo, refinarias e petroquímicas) e, particularmente, eletro-intensivas, em
função da significativa capacidade de geração de energia hidroelétrica.
4.
Países como Catar, Kuwait, Emirados Árabes Unidos e
Barein, cujo IDH encontra-se entre 0,8 e 0,9, possuem baixa densidade
demográfica e clima desértico, porém por possuírem parque industrial
energo-intensivo (por exemplo, refinarias e petroquímicas) apresentam alto
consumo per capita de eletricidade.
5.
O consumo de eletricidade dos países de alto IDH é
inferior ao de vários países com médio IDH (0,6<IDH<0,8), e inclusive
inferior ao de alguns países com baixo IDH (<0,6). Tal constatação ocorre
devido ao fato de esses países apresentarem matriz energética mais equilibrada
e eficiente, além de hábitos de consumo conscientes.
6.
O estudo da Agência Internacional de Energia revelou
dois cenários de consumo de energia para os anos 2003 e 2050: o Referência e o
TecPlus. No cenário Referência o consumo mundial de energia poderia superar
900EJ em 2050, ou seja, mais do que duas vezes o consumo de 2003. No cenário
TecPlus seriam verificadas as maiores reduções no consumo de energia e,
consequentemente, reduções das emissões de GEE. Comparando-se os cenários
Referência e TechPlus, constata-se significativa redução das emissões sobretudo
na geração de eletricidade, que poderiam em 2050 ser inclusive inferiores às
emissões em 2003. Também da comparação entre os cenários para 2050 verifica-se
substancial redução das emissões no setor de Transformações.
Segundo o
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Cimáticas (IPCC, 2007 apud Walter,
2007), são destacadas três ações que seriam capazes de reduzir
significativamente as emissões e a concentração de GEE, sem sacrificar a
qualidade de vida da população mundial, quais sejam: a) aumento da eficiência
energética; b) captura e armazenamento de carbono; e c) alteração do mix de
combustiveis.
Como exemplos
de medidas para o aumento da eficiência energética pode-se citar: no suprimento
de energia (por exemplo, aumento da eficiência no sistema de transmissão e de
transmissão), nos transportes (por exemplo, aumento da eficiência dos veículos rodoviários
e de aviões), em edificações (por exemplo, sistemas de iluminação mais
eficientes, maior eficiência de eletrodomésticos, melhoria do isolamento
térmico), nas indústrias (por exemplo, maior eficiência dos motores elétricos,
recuperação de calor, geração combinada de calor e potência, reciclagem de
materiais) e na agricultura (IPCC, 2007 apud Walter, 2007).
No que tange à
captura e armazenamento de carbono, as alternativas seriam a separação do
dióxido de carbono antes da combustão (por exemplo, separando-se o dióxido de
carbono produzido na gaseificação de carvão mineral ou de biomassa), ou a
separação após a combustão, com remoção do dióxido de carbono da mistura de
gases de combustão. Economicamente, entretanto, tais alternativas só podem ser viabilizadas
em unidades estacionárias, em instalações de capacidade significativa (IPCC,
2007 apud Walter, 2007).
●
Avaliação:
Percebe-se no
decorrer de todo o artigo que Walter reconhece a situação trágica na qual nosso
planeta se encontra no que tange às mudanças climáticas provocadas pela questão
energética. Ao passo que o autor explana, respaldado em estudos confiáveis, os
impactos da cadeia de suprimento energético sobre o clima, o mesmo aponta as
principais medidas necessárias para a sua resolução. Deixa claro que tais
medidas não são de todo conhecidas ou implementadas no mundo, sendo que, as
nações em desenvolvimento, as quais em geral possuem menor IDH, são também as
maiores consumidoras de energia – como eletricidade, biomassa, carvão,
combustíveis, etc. –, cuja geração emite gases de efeito estufa em proporções
suficientes para alterar o clima de suas respectivas localizações geográficas.
Walter (2007,
p. 30) afirma que, “do ponto de vista das emissões de GEE, é clara a
importância do uso da energia, bem como é evidente que a mitigação das emissões
associadas requer ações concretas, mas sem impor sacrifícios à qualidade de
vida da população mundial, sobretudo dos segmentos populacionais que ainda não
têm acesso à energia”.
O autor (2007,
p. 46) enfatiza que “no caso do Brasil, que já tem mais de 40% de participação
de fontes renováveis em sua matriz energética, sua efetiva contribuição para a
redução das emissões de GEE está na redução – e no futuro, na total eliminação
– do desmatamento”. Destacando o grande potencial brasileiro para, ao menos,
manter a participação das fontes renováveis em sua matriz energética, Walter afirma
que o Brasil tem condições, também, de produzir biocombustíveis (por exemplo,
etanol, biomassa sólida – por exemplo, a partir de resíduos – e no futuro,
eventualmente, biodiesel) para exportação.
Embora,
segundo o autor, a nação brasileira não deva assumir o papel de supridora
internacional de biomassa, em larga escala, por outro lado pode ter o papel de
extrema relevância na consolidação dos mercados e do comércio internacional.
Como última avaliação, Walter ressalta a necessidade fundamental de que a
cultura do uso eficiente de energia seja disseminada em todo o território
nacional. Nas palavras dele, “[...] Portanto, quanto antes começarmos,
melhor”. (Walter, 2007, p. 46).
Ainda que de
uma forma bem conservadora, Walter transparece otimismo ao qualificar o gigante
desafio de reduzir as emissões e a concentração de gases de efeito estufa de
fantástico. Tal qualificação dá a entender que do ponto de vista do autor,
apesar de essa ser uma questão complexa de ser solucionada, ainda sim é
possível obter o êxito necessário e esperado conquanto os tomadores de decisão,
quer do governo quer das corporações em geral, conscientizem-se sobre a
problemática em questão e esforcem-se em implementar as medidas capazes de
solucioná-la ou ao menos mitigá-la.
●
Recomendação:
Diante da
vasta bagagem acadêmica e profissional de Arnaldo C. S. Walter, em especial no
que tange ao setor energético, seus argumentos, premissas e conclusões se fazem
muito bem fundamentados. Embora seu artigo tenha sido aprovado e publicado há
seis anos, suas informações são confiáveis e atualizadas, haja vista que o
mesmo se valeu também de dados posteriores ao presente momento, por exemplo,
quando apresenta o estudo da Agência Internacional de Energia (AIE) sobre o
consumo da eletricidade para o ano de 2050.
De fato,
segundo palavras do autor, “o relatório da AIE, cujos resultados foram
apresentados ao longo deste texto, evidencia que a redução das emissões de GEE
associadas ao uso de energia será um desafio fantástico. Apenas com um amplo conjunto
de ações, que incluem a diversidade de fontes de energia, o desenvolvimento
tecnológico, sobretudo, um enorme esforço para o aumento da eficiência no uso
da energia, seria possível estabilizar, ou mesmo reduzir, as emissões de GEE em
relação ao verificado no início deste século”.
Por fim,
tendo-se em vista as projeções estatísticas populacionais para as próximas
décadas bem como suas respectivas demandas energéticas, urge que a nação
brasileira invista na expansão de sua matriz energética, na reeducação do
consumo de seus habitantes e na eficiência energética em todos os setores
econômicos. Eis a tamanha relevância das pesquisas realizadas nesta área, o
que, indubitavelmente, inclui este artigo de Walter, o qual recomendo aos
interessados pelo assunto.
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