Blog METODOLOGIA
CIENTÍFICA NA PRÁTICA, de autoria de Álaze Gabriel.
Disponível
em http://metodologiacientificanapratica.blogspot.com.br/
Autoria:
Álvaro
Oscar Campana - Professor Titular do Departamento de Clínica Médica da
Faculdade de Medicina de Botucatu ¾ Unesp.
INTRODUÇÃO
Em
ciência, o produto da atividade relacionada a determinada investigação é
usualmente discutido inúmeras vezes pelos seus autores, antes de ser
considerado pronto para apresentação à comunidade científica. Posteriormente,
em reuniões e congressos, é freqüente que aspectos do trabalho aos quais foi
dada menor atenção sejam realçados ou que sejam evidenciados problemas
nucleares importantes de delineamento ou de interpretação de resultados, que
exigem novo tratamento. Essas correções de rumo contribuem muitas vezes para
que o trabalho venha a assumir suas características finais, quando os autores
passam a sentir-se mais seguros a respeito daquilo que pretendem dizer. É este
o momento adequado para a redação do trabalho para publicação, forma mais
importante de comunicação entre membros da comunidade científica.
Entretanto,
antes da redação propriamente dita, algumas questões devem ocupar a atenção do
pesquisador. Elas são apresentadas a seguir(1).
1)
"O que se pretende dizer com o trabalho?" É de esperar que a
investigação tenha tratado de uma questão importante, claramente explicitada e
adequadamente respondida. Atendidas essas premissas, será perfeitamente
possível registrar a resposta à questão básica do trabalho sob forma de uma
sentença simples e curta. Quando, ao contrário, o problema foi enunciado com
vagueza e tratado de modo inadequado, dificilmente se conseguirá obter uma resposta
que corresponda a uma mensagem sintética e marcante. A finalidade da publicação
é a difusão de idéias; dessa maneira, é de interesse captar a atenção do
leitor; a inclusão de uma mensagem simples e direta é fator importante para
predispor o leitor à leitura integral do trabalho.
2)
"Como foi conduzido o trabalho?" Aqui devem ser consideradas as
questões relacionadas com o delineamento da pesquisa, materiais e métodos e
estatísticas. Assim:
O
delineamento da investigação foi adequado, tendo em vista as respostas
almejadas? Os grupos controles e experimentais foram constituídos
apropriadamente? O número de sujeitos estudado permite aceitarem-se, com boa
margem de segurança, os resultados? As técnicas empregadas são aquelas
internacionalmente aceitas no momento atual? Não houve problemas quanto à
coleta dos dados, ao seu registro nos protocolos, aos cálculos e às
estatísticas realizadas?
3)
"Vale a pena escrever o artigo?" A redação do trabalho científico
implica sua publicação em periódico científico. Com relação a esse aspecto, há
que analisar se a resposta a que o trabalho permite chegar representa novidade
para a literatura médica em geral ou, pelo menos, para uma clientela
específica.
Com
relação a esse aspecto, o conhecimento da literatura científica específica,
referente aos últimos anos, orientará os pesquisadores interessados na
publicação. Se a resposta obtida já é conhecida na literatura médica geral, a
aceitação do trabalho encontrará sérias dificuldades quanto à publicação.
Poderá, entretanto, o artigo ser aceito se a resposta for considerada nova para
uma clientela específica. Ou, pelo menos, caso venha a reforçar conclusões de
alguma investigação pregressa.
4)
"Sob que forma deve ser apresentado o material da pesquisa?" A
natureza da mensagem que se pretende veicular e a estrutura geral do trabalho
(delineamento, grupos, técnicas, etc.) constituem os fatores que indicam qual a
forma da publicação.
Relatos
de caso ou de casos ou do efeito adverso de alguma droga podem ser redigidos de
maneira concisa e encaminhados para publicações do tipo "carta ao
editor", "comunicação breve" ou "notas clínicas".
Atualmente, a tendência dos periódicos médicos mais importantes inclina-se para
a não aceitação de relatos de caso, a não ser que estes abordem aspectos
específicos e excepcionais.
Eventualmente,
o estudo de casos é conduzido com rigor, com formulação de questões
específicas, de hipóteses e criação de grupos controles, analisados
estatisticamente. Então, a estrutura da publicação é equivalente à do trabalho
de pesquisa padrão, comentado a seguir.
Número
significativo de investigações na área médica corresponde a trabalhos
originais, desenvolvidos em obediência a esquema padrão: compõem-se de
Introdução, Materiais e Métodos, Resultados e Discussão, com conclusões.
Contêm, também, Resumo e Citações Bibliográficas.
Outro
tipo de publicação é a revisão, cujo objetivo é o relato aprofundado do estado
atual do conhecimento, relativo a um tema. A revisão pode ocupar-se somente do
arrolamento e do estudo de trabalhos da literatura ou pode, também, incluir uma
série de casos acompanhados pelo próprio autor.
Se
a revisão for realizada de acordo com metodologia explicitada e reprodutível,
ela é denominada revisão sistemática. Dados quantitativos de diferentes estudos
de uma revisão sistemática podem ser integrados, visando conclusões
generalizáveis; este procedimento metodológico correspondente à metanálise(2).
5)
"Para qual revista deve ser enviado o trabalho?" Há, aqui, alguns
aspectos a considerar:
•
é de interesse enviar o artigo para periódico que esteja relacionado com a área
disciplinar e profissional em que se insere a investigação realizada;
•
tema do trabalho preferencialmente deve enquadrar-se dentro da temática de
interesse da revista;
•
verificar se as características do artigo se coadunam com as exigências formais
e estruturais da revista escolhida; aqui são incluídos: tamanho do artigo,
número de tabelas e figuras, citações bibliográficas, etc.
•
pesquisadores usualmente sabem quais são as revistas de padrão muito bom ou
excelente, pelo menos na sua área específica de interesse. Periódicos
científicos podem ser classificados pelos seus "fatores de impacto";
estes são obtidos por consulta ao Journal Citation Reports.
PUBLICAÇÃO
DE INVESTIGAÇÃO ORIGINAL EM PERIÓDICOS CIENTÍFICOS
As
partes que constituem o trabalho científico, destinado à publicação, são:
Introdução, Material e Métodos, Resultados, Discussão, Resumo e Summary
e Referências Bibliográficas.
Terminada
a parte prática do trabalho científico, é usual que seu autor principal se
pergunte por onde deve começar a difícil fase de redação do trabalho. Não
existe, propriamente, padronização a esse respeito. Embora todo trabalho
científico se inicie pela caracterização dos objetivos e, com freqüência, pela
formulação da hipótese, não é fácil iniciar a redação pela Introdução. Quando
isso ocorre, é freqüente, em meio da primeira redação do trabalho, ou terminada
a redação, voltar-se à Introdução, para efeito de eventuais reformulações. Às
vezes, as reformulações são significativas; por exemplo, correspondem a
modificações de objetivos; então, estes devem ser redigidos segundo a nova
versão.
Uma
seqüência que pode ser proposta é a seguinte: iniciar-se pela redação de Materiais
e Métodos; a seguir, redigir Resultados; então, Discussão; nesta fase, é útil
escrever ou retocar ou refazer a Introdução; a seguir: Resumo e Summary.
Finalmente, Referências Bibliográficas.
Introdução(3)
¾ Em essência, a Introdução se desenvolve segundo encadeamento de idéias que
são respostas a três perguntas: o que vai ser feito? por que vai ser feito? o
que se pretende mostrar?
O
que vai ser feito? A resposta a essa pergunta inicia a Introdução. Consiste na
exposição do problema que vai ser investigado.
A
resposta à segunda pergunta ocupa grande parte da Introdução, porque o autor
necessita dar informações sobre o que se conhece e sobre as lacunas do
conhecimento relativo ao assunto estudado. Assim, este trecho contém os dados
da literatura científica pertinente.
Existem
duas maneiras de redigir esta fase da Introdução. Uma é enunciar, em seqüência
temporal, os trabalhos da literatura. Esta maneira tem aspectos negativos,
porque a sucessão de interpretações, algumas semelhantes e outras discordantes,
torna o texto enfadonho e confuso. Outra maneira é aquela que considera, em
conjunto, resultados e interpretações concordantes e os apresenta como
representando um modo de entender o problema; a seguir, o autor passa a
referir-se a outro conjunto de trabalhos, os quais representam a visão
alternativa do mesmo problema. Neste tipo de apresentação de dados da
literatura, poderá muitas vezes não ser obedecida a seqüência temporal das
publicações; isto, porém, é secundário, frente à clareza de que o texto passa a
se revestir.
Era
usual que a Introdução incluísse extensa e aprofundada revisão do assunto,
contendo grande número de artigos da literatura específica. Atualmente, o que é
relevante é o conhecimento da literatura relacionada diretamente com o problema
específico que se pretende estudar.
Esta
segunda parte da Introdução tem importância muito grande, porque ela informa
que, em nosso meio e, também, no Exterior, o assunto em questão tem, ao que
tudo indica, aspectos desconhecidos, não estudados, ou estudados, mas ainda não
compreendidos. Em conseqüência, há claras justificativas para que o problema
seja estudado tal como está sendo proposto.
A
resposta à terceira pergunta ¾ "o que se pretende mostrar?" ¾ é o
fecho da Introdução. Em uma primeira variante, o autor informa, simplesmente,
que os objetivos do trabalho são tais ou quais. Esta variante adapta-se
adequadamente a trabalhos descritivos. Os objetivos devem ser bem definidos e
redigidos com clareza.
Entretanto,
trabalhos mais elaborados incluirão suposições feitas pelo investigador. Então,
a hipótese ou as hipóteses formuladas devem ser redigidas de maneira explícita.
É conveniente, então, apresentar a hipótese em primeiro lugar e, a seguir, os
objetivos (se for o caso, geral e específicos).
Material
e Métodos(4) ¾ Este título é modificado para Indivíduos e
Métodos, ou Pacientes e Métodos, ou Casuística e Métodos, quando o estudo se
refere a seres humanos.
Em
trabalhos mais complexos, é conveniente iniciar este capítulo com a explicação
sobre a maneira como foi desenvolvido o experimento. Trata-se do delineamento
do projeto experimental. No delineamento, descreve-se o experimento: duração
total, fases que o constituem (por exemplo: período de observação, período de
estudo, período de recuperação) e os procedimentos gerais da investigação.
Ao
delineamento, segue-se a descrição dos indivíduos ou grupos utilizados. A
descrição dos grupos, no corpo principal da tese, deve ser tão completa quanto
possível, tendo em vista o contexto da pesquisa realizada. Assim: quanto ao
grupo experimental, qual foi o critério diagnóstico utilizado? Foram
considerados os diferentes estágios e as variantes da doença? De onde procedem
os doentes: do hospital? de postos de saúde? Quanto ao grupo controle, qual foi
o critério usado para sua composição? Qual foi o procedimento utilizado para
fazer a distribuição dos indivíduos entre os grupos?
No
caso de investigações que envolvem seres humanos, é preciso que os indivíduos
estejam a par dos procedimentos a que serão submetidos e de sua finalidade e
que concordem com sua execução. A anuência do paciente fica registrada em
documento, por ele assinado. Além disso, a realização da pesquisa dependerá de
sua aprovação por comissão de ética do hospital em que será desenvolvida.
A
seguir, são descritas as condições do meio em que se desenvolve o experimento e
os estímulos aplicados. No caso de drogas, usar, de preferência, os nomes
científicos e não os comerciais; unidades e concentrações devem ser expressas
de acordo com normas internacionais.
Devem
ser citados ou descritos os métodos utilizados. Qualquer método citado deve ser
acompanhado da correspondente indicação bibliográfica. Quando o método
utilizado é conhecido e aceito pela comunidade científica, não há necessidade
de descrevê-lo: cita-se o método, indica-se qual sua finalidade e registra-se a
publicação em que o método é descrito, tal como foi usado no experimento em
pauta. Se for usada uma modificação desse método, é a publicação referente a
essa alteração que deve ser citada. Entretanto, se a modificação tiver sido
feita pelo próprio autor da tese, todas as novas passagens do procedimento
devem ser descritas seqüencialmente. Se o autor da tese propõe novo método de
estudo, então ele deverá descrevê-lo por inteiro e usar um método conhecido e
aceito, para testar seu método.
A
descrição do método completa-se com a indicação do equipamento utilizado, de
que são referidos o nome, o nome do fabricante e sua procedência. Finalmente,
são citados os métodos estatísticos utilizados e o nível de significância
adotado.
Resultados(5)
¾ Ao término da investigação, o pesquisador poderá ter à sua disposição grande
quantidade de dados. É conveniente dispor os dados em gráficos e em tabelas e
examiná-los com calma. Não existe uma só maneira de construir gráficos e
tabelas a partir dos dados obtidos; algumas podem fazer ver relações e aspectos
que outras não conseguem. Esta análise poderá levar a uma seleção de dados,
relevantes para o estudo proposto. Estes, então, são organizados seqüencialmente.
O
texto relativo aos resultados é condensado, objetivo e claro; geralmente, o
verbo é usado no tempo passado. Nas tabelas, os resultados aparecem na forma de
valores médios e desvios padrões, de erro padrão ou de mediana e separatrizes
(decil, quartil). Quando há interesse em chamar a atenção para algum tipo de
alteração das variáveis analisadas, os dados são também apresentados
graficamente.
Tabelas
e figuras são numeradas, seqüencialmente, em algarismos arábicos. Ambas têm
título e texto explicativo. Este é sintético, mas deve conter informações
suficientes, de tal modo a permitir a compreensão da tabela, ou da figura, sem
que seja necessário recorrer-se à leitura do texto. Nas tabelas, os dados são
limitados apenas por linhas horizontais, não sendo utilizadas linhas verticais.
Os dados são apresentados em colunas verticais; incluem valores médios e
desvios padrões ou erro padrão ou mediana e separatrizes. As diferenças
estatísticas são indicadas por asteriscos, colocados à direita, pouco acima do
valor considerado. No rodapé, o asterisco indica o nível de significância
empregado. Pontuam-se o texto da legenda e eventuais notas no rodapé.
Quanto
às figuras, registrar, sempre, as variáveis envolvidas e as respectivas
unidades.
Para
as pesquisas na área médica, é de interesse usar as unidades do Le Système
International d'Unités para exprimir valores dos resultados de exames
clínico-laboratoriais. Este sistema foi adotado por órgãos como o American
National Metric Council e a American Medical Association(6).
Neste sistema (Unidades SI), as concentrações são expressas em termos molares,
sendo o litro o volume de referência.
Já
vimos que experimentos originais, exploratórios, podem ser puramente
qualitativos. Nos trabalhos quantitativos, os dados são geralmente submetidos a
estudo estatístico, o que, eventualmente, permite concluir sobre a existência
de um resultado significativo.
Discussão
¾ A discussão pode ser considerada quanto à hipótese, quanto ao material e aos
métodos e quanto aos resultados.
É
mais simples, em primeiro lugar, redigir a discussão relacionada ao material e
aos métodos. Por que foram escolhidos os indivíduos, os grupos e os métodos
utilizados no trabalho? Este procedimento foi adequado à pesquisa proposta
(tanto pelas características, quanto pelo número de indivíduos)? Havia outras
possibilidades metodológicas quanto aos indivíduos escolhidos? Quais as
vantagens e desvantagens do procedimento usado em relação a outros?
Quanto
à discussão dos resultados, ela pode orientar-se em função das seguintes
questões:
•os
resultados obtidos foram comprovados por meio de repetições ou de procedimentos
adicionais?
•que
nível de precisão pode ser atribuído aos resultados obtidos?
•quais
são os limites dentro dos quais os resultados podem ser aceitos (por exemplo:
no sexo masculino ou no sexo feminino; em determinada faixa etária; em
determinadas condições clínicas; para determinada faixa de valores)?
•que
comentários podem ser aduzidos a respeito do estudo estatístico? Num estudo
comparativo entre dois grupos, por exemplo, verificou-se existir diferença
significativa entre eles. É pertinente perguntar: o achado é estatisticamente
significativo, mas ele é biologicamente ou clinicamente significante? Este
aspecto deve ser cuidadosamente analisado; de fato, existe a possibilidade de o
resultado ser estatisticamente significante e de não o ser clinicamente(7,8).
Por outro lado, o achado pode mostrar-se não significante, devido ao número
insuficiente de pacientes estudados(7); este é o momento para se
discutir sobre o tamanho da amostra e o poder do teste.
•os
resultados obtidos acolhem a hipótese formulada?
•os
resultados obtidos são coerentes com o corpo de conhecimento aceito? Este
aspecto implica a comparação dos resultados obtidos com resultados de trabalhos
iguais ou semelhantes da literatura ou, se não existirem estes dados, com o
corpo teórico de conhecimentos do campo relacionado com a investigação
realizada. Recomenda-se o seguinte cuidado: se estes trabalhos já comparecem na
Introdução, não repetir a descrição de seus achados lá registrada; deve-se,
simplesmente, fazer referência a eles;
•os
dados obtidos indicam que existe associação entre duas variáveis: qual é a
intensidade desta associação? pode-se indicar que existe uma correlação entre
as variáveis? a investigação permite propor qual o mecanismo subjacente à
correlação que se mostrou existir?
•que
novo conhecimento, relacionado ao problema estudado, pode ser apontado como
efeito da solução obtida?
•a
solução encontrada é original?
•a
solução encontrada tem utilidade prática? Qual ou quais?
Durante
esta fase da Discussão, a própria hipótese formulada pode ser comentada
criticamente: ela está fundamentada? é compatível com o conhecimento atual?
Conclusão
ou conclusões ¾ A discussão é encerrada com o registro de inferências, que
correspondem seja a deduções, seja a generalizações indutivas, originadas a
partir da análise e interpretação dos resultados. Satisfeitas as exigências
quanto à validação interna dos procedimentos efetuados, admite-se a
generalização para a amostra estudada; pode-se, então, discutir a validade
externa do estudo, o que implicaria a possibilidade de se generalizarem os
resultados da amostra estudada para outras amostras, além dela.
Resumo
¾ O resumo deve incluir: o enunciado do problema proposto, a hipótese
formulada e os objetivos, o delineamento geral do trabalho, a descrição sucinta
dos indivíduos e dos métodos, a apresentação dos resultados, aspectos
fundamentais da discussão e as conclusões principais. Pode-se incluir o
registro de problemas pendentes, que abrem as perspectivas para novas
pesquisas.
É
conveniente enunciar a conclusão no último parágrafo. Se não existir uma
conclusão clara, bem caracterizada, pode-se escrever: "O efeito de A sobre
B é discutido"(7). É usual, também, que seja incluído o resumo
redigido em inglês.
Referências
Bibliográficas ¾ As recomendações da Associação Brasileira de Normas
Técnicas a respeito de qualquer aspecto pertinente às citações de trabalhos da
literatura científica podem ser seguidas. Entretanto, grande número de revistas
adota sistemática própria para registro das citações bibliográficas.
COMUNICAÇÃO
BREVE (SHORT COMMUNICATION)
Neste
tipo de publicação, não há separação entre as partes componentes do trabalho
científico. Introdução, material e métodos, resultados e discussão são
apresentados seqüencialmente, sob a forma de texto único. Resumo, summary
e referências bibliográficas acompanham o texto principal. Como o próprio nome
diz, a característica principal desta apresentação é o seu reduzido tamanho.
CARTA
AO EDITOR
É
forma de publicação similar à comunicação breve, utilizada usualmente por
algumas revistas. Obedece, de modo geral, ao esquema da comunicação breve, com
a diferença que não contém resumo ou summary.
RELATO
DE CASO ¾ ANÁLISE DE SÉRIE DE CASOS(1)
Ocasionalmente,
relatos de caso são aceitos para publicação em revistas de alto padrão: quando
o caso parece corresponder a uma doença ou síndrome até o momento não descrita;
quando o caso mostra a associação de duas ou mais doenças, com sugestão de
possível relação causal entre elas; quando é documentada importante e nova
variação em relação ao padrão já conhecido de alguma doença; ainda, quando o
caso exibe uma evolução inesperada, que sugere algum efeito terapêutico ou
adverso de droga. A estrutura do relato de caso pode ser assim esquematizada:
Introdução (qual é o interesse em publicar o caso?), Descrição do caso
(inclusive contendo dados) e, a seguir, Discussão e Conclusões.
Há,
entretanto, variantes; por exemplo, quando a descrição do caso torna necessária
a apresentação de inúmeros e detalhados exames laboratoriais. Então, é
conveniente inserir as seções Material e Métodos e Resultados entre a descrição
do caso e a discussão.
A
pesquisa pode corresponder ao estudo retrospectivo de vários casos (análise de
série de casos); a estrutura geral da apresentação é similar à do relato de
caso. Entretanto, se a investigação for conduzida com rigor, formulando-se
questões específicas e hipóteses, constituindo-se grupos controles e
aplicando-se testes estatísticos, cabe melhor utilizar, para publicação,
estrutura que seja equivalente à do trabalho original de pesquisa.
REVISÃO(1)
Esta
é uma publicação ampla, que se destina a relatar, aprofundadamente, o estado
atual do conhecimento relativo a um tema. Tem, como finalidade, responder a
perguntas importantes, concernentes a áreas específicas do conhecimento, com
base na avaliação crítica da literatura pertinente. Embora não tenha estrutura
rígida, pode-se dizer que a Revisão compõe-se de três partes: Introdução,
Métodos e Corpo Principal da Revisão, que pode constar de vários itens.
Na
Introdução, é apresentada a questão ou as questões que motivaram a realização
do trabalho. A questão pode ser relacionada, por exemplo, aos efeitos adversos
de droga, ou às características clínicas de doença ou a alguma anomalia
bioquímica, como a hipercalcemia. É importante esclarecer por que há necessidade,
no momento, de fazer a revisão do assunto.
Na
seção de Métodos, definições, às vezes, são necessárias. Com relação a doenças,
por exemplo, é necessário que o autor esclareça quais são os critérios
diagnósticos que adotou para caracterizá-las. Ou, então, se o assunto se
relaciona com efeitos adversos de uma droga, o autor pode classificá-los em
"possíveis" ou "prováveis", de acordo com a fundamentação
disponível.
Em
Métodos, ainda, há que esclarecer como se procedeu ao estudo da literatura
existente: até onde se recuou no tempo, quais as fontes consultadas, que termos
foram usados para a consulta e em que línguas esta foi feita. Quando a revisão
da literatura retrocede a mais de cinco ou dez anos, é importante que seja
esclarecido que cuidados foram tomados para obviar problemas de mudança de
definições, conceitos e classificações. Se se tratar de revisão sistemática ou
de metanálise, mais informações são necessárias quanto às características dos
trabalhos (delineamento, tamanho da amostra, estatística, etc.).
O
corpo principal da revisão pode ser dividido em itens. No caso de uma doença,
os itens podem corresponder exatamente àqueles tais como são apresentados nos
livros-texto de Medicina: etiologia, patogênese, fisiopatologia, etc. Para
outros assuntos, outras seqüências são usadas. Uma linha geral seria a de
apresentar os tópicos indo do geral para o particular, ou dos componentes de um
sistema para uma estrutura integrada (exemplo: efeitos nas células, depois em
órgãos e, finalmente, efeitos sistêmicos).
Neste
item, o autor procura, baseado na literatura, ater-se àquela que parece válida
e consistente. Isto permite ao autor expor aquilo que é importante conhecer no
momento.
Seus
conhecimentos e sua experiência podem levá-lo a discordar a propósito de um ou
outro aspecto estudado; por outro lado, há problemas não resolvidos,
merecedores de estudo. Estes últimos aspectos podem ser apresentados sob forma
de discussão, constituindo o fecho do trabalho.
REVISÃO
SISTEMÁTICA(2)
Para
finalizar, é conveniente considerar a denominada revisão sistemática. A
revisão, para ser considerada sistemática, deve ser realizada de acordo com
metodologia explicitada e reprodutível. Em outras palavras, deve enunciar
claramente quais são seus objetivos e quais são os critérios que determinaram
quais trabalhos foram incluídos no estudo. A seguir, da revisão constam os
dados de cada trabalho incluído, após verificada sua qualificação do ponto de
vista metodológico. O passo seguinte é a reunião do maior número possível de dados
e sua análise por meio de estatística apropriada ¾ o que corresponde à
metanálise. Feito isso, referem-se os resultados finais. O texto final
corresponde, pois, a um sumário crítico da revisão, com enunciado de objetivos,
descrição de materiais e métodos e relato de resultados.
Na
revisão aludida acima, poderá haver vários resultados, de importância
semelhante, de acordo com as circunstâncias. Nesta fase, o trabalho do
investigador é decidir qual dos resultados finais (resultados dos vários
estudos primários) é o melhor para uso na síntese que é o objetivo da
metanálise (por exemplo: os trabalhos primários podem referir-se à mortalidade
de determinada doença em três meses, ou em seis meses ou em um ano; na
metanálise, o objetivo estabelecido pode ser o da mortalidade em seis meses).
Atualmente,
os resultados da metanálise são apresentados sob forma padronizada(2).
Artigos de revisão extensos e aprofundados de pesquisadores renomados
constituem o state of the art paper.
EDITORIAIS
Há
periódicos científicos que contêm editoriais, textos geralmente redigidos pelo
seu corpo editorial, ou por ele solicitados. Editoriais tratam da posição de
pesquisador categorizado sobre assunto relevante e de importância no momento,
seja metodológico ou conceitual, seja na área de política científica ou de
saúde, ou do ponto de vista ético.
OUTRAS
FORMAS DE PUBLICAÇÃO
Há
revistas que incluem, entre suas publicações, as "novidades e
comentários" (news and comments), que veiculam comentários sobre
assuntos relacionados a publicações recentes.
Publicações
em áreas de ponta, de autoria de cientistas categorizados, que propõem novas e
originais maneiras de interpretar fatos, são rotuladas, às vezes, como ensaios.
REFERÊNCIAS
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papers in the medical sciences. 2nd ed. Baltimore: Williams &
Wilkins, 1990.
2. Greenhalgh T. How to read a paper
¾ The basic of evidence based medicine. 1st ed. BMJ Publishing
Group, London: BMA House, Tavistock Square, 1997.
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Trianon, 1995.
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Gonçalves EL, coord. Pesquisa médica. São Paulo: EPU, 1983.
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resultados. In: Gonçalves EL, coord. Pesquisa médica. São Paulo: EPU, 1983.
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Med Assoc J 1981; 124:1156-1162.
8. Tonhasca Jr A. The three
"capital sins" of statistics used in biology. Ciência e
Cultura 1991;43:417-422.