Blog “Metodologia
Científica na Prática”, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel.
Disponível em http://metodologiacientificanapratica.blogspot.com.br/
INTRODUÇÃO
A diferença entre os trabalhos dos
cientistas e o dos estudantes universitários não deveria residir no método, mas
nos propósitos. Os cientistas já estão trabalhando com o intuito de promover o
avanço da ciência para a Humanidade; os estudantes ainda estão trabalhando para
o crescimento de sua ciência. Ambos, porém, devem trabalhar cientificamente. Os
estudantes trabalham cientificamente quando realizam pesquisas dentro dos
princípios estabelecidos pela metodologia científica, quando adquirem a
capacidade não só de conhecer as conclusões que lhes foram transmitidas, mas se
habilitam a reconstituir, a refazer as diversas etapas do caminho percorrido
pelos cientistas (SANTOS, 1999, pág. 47)
A pesquisa cientifica objetiva
fundamentalmente contribuir para a evolução do conhecimento humano em todos os
setores, sendo sistematicamente planejada e executada segundo rigorosos
critérios de processamento das informações. Será chamada pesquisa científica se
sua realização for objeto de investigação planejada, desenvolvida e redigida
conforme normas metodológicas consagradas pela ciência. Os trabalhos de graduação e de pós-graduação,
para serem considerados pesquisas científicas, devem produzir ciência, ou dela
derivar, ou acompanhar seu modelo de tratamento.
Alguns pesquisadores conceituam pesquisa
da seguinte forma:
ž
Conjunto
de procedimentos sistemáticos, baseado no raciocínio lógico, que tem por
objetivo encontrar soluções para problemas propostos, mediante a utilização de
métodos científicos (ANDRADE, 2003, p. 121);
ž
Procedimento
racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos
problemas propostos (GIL, 1987, p. 19);
ž
Atividade
voltada para a solução de problemas através do emprego de processos científicos
(CERVO e BERVIAN, 1983, p. 50).
As pesquisas podem ser classificadas
segundo diversos critérios, como por exemplo:
·
Quanto à natureza: não se fundamenta nos métodos
adotados, mas sim nas finalidades da pesquisa:
§
Trabalho científico original: pesquisa
realizada pela primeira vez, que venha a contribuir com novas conquistas e
descobertas para a evolução do conhecimento científico;
§
Resumo de assunto: pesquisa que dispensa
originalidade mas não o rigor científico. Fundamenta-se em trabalhos mais avançados,
publicados por autoridades no assunto e que não se limita à simples cópia de
idéias. A análise e interpretação dos fatos e idéias, a utilização de
metodologia adequada, bem como o enfoque do tema de um ponto de vista original
são qualidades necessárias. É mais comum nos cursos de graduação.
·
Quanto aos objetivos:
§
Pesquisa exploratória: constitui o
primeiro passo de todo trabalho científico. Visa, sobretudo quando é
bibliográfica, proporcionar maiores informações sobre determinado assunto,
facilitar a delimitação de um tema de trabalho, definir objetivos ou formular
as hipóteses de uma pesquisa ou descobrir novo tipo de enfoque para o trabalho
que se tem em mente;
§
Pesquisa descritiva: os fatos são
observados, registrados, analisados, classificados e interpretados sem que o
pesquisador interfira neles. Incluem-se aqui a maioria das pesquisas
desenvolvidas nas Ciências Humanas e Sociais, as pesquisas de opinião, as
mercadológicas, os levantamentos socioeconômicos e psicossociais;
§
Pesquisa explicativa: mais complexa
pois, além de registrar, analisar e interpretar os fenômenos estudados, procura
identificar seus fatores determinantes, ou seja, suas causas. A maioria destas
pesquisas utiliza o método experimental, o qual é caracterizado pela
manipulação e controle das variáveis, com o objetivo de identificar qual a
variável independente que determina a causa da variável dependente ou do
fenômeno em estudo.
·
Quanto ao objeto: referente principalmente ao
ambiente onde são realizadas as pesquisas:
§
Bibliográfica: pode ser um trabalho independente ou
uma etapa inicial de uma pesquisa;
§
De laboratório: o pesquisador tem condições de
provocar, produzir e reproduzir fenômenos, em condições de controle. Não é
sinônimo de pesquisa experimental; nas Ciências Humanas e Sociais também se faz
este tipo de pesquisa;
§
De campo: não tem como objetivo produzir ou
reproduzir os fenômenos estudados. A coleta de dados é efetuada em campo, onde
ocorrem espontaneamente os fenômenos. É desenvolvida principalmente nas
Ciências Sociais (Sociologia, Psicologia, Política, Economia, Antropologia).
·
Quanto aos procedimentos técnicos:
§
Pesquisa bibliográfica: é aquela que
utiliza material escrito / gravado, mecânica ou eletronicamente. São
consideradas fontes bibliográficas os livros (de leitura corrente ou de
referência, tais como dicionários, enciclopédias, anuários etc.), as
publicações periódicas (jornais, revistas, panfletos etc.), fitas gravadas de
áudio e vídeo, páginas de web sites, relatórios de simpósios /
seminários, anais de congressos etc.;
§
Pesquisa documental: utiliza fontes
de informação que ainda não receberam organização, tratamento analítico e
publicação, como tabelas estatísticas, relatórios de empresas, documentos
arquivados em repartições públicas, associações, igrejas, hospitais,
sindicatos, fotografias, epitáfios, obras originais de qualquer natureza,
correspondência pessoal ou comercial etc.;
§
Pesquisa experimental: quando um fato
ou fenômeno da realidade é reproduzido de forma controlada, com o objetivo de
descobrir os fatores que o produzem ou que por ele são produzidos. São
geralmente feitos por amostragem, onde se considera que os resultados válidos
para uma amostra (ou conjunto de amostras) serão, por indução, válidos também
para o universo;
§
Pesquisa ex post facto: significa
literalmente “a partir de depois do fato”. Trata-se de uma pesquisa
experimental onde, após o fato ou fenômeno ter ocorrido, tenta-se explicá-lo ou
entendê-lo;
§
Levantamento (pesquisa de opinião, de motivação
etc.): é aquela que busca informação diretamente com um grupo de interesse a
respeito dos dados que se deseja obter, utilizando questionários, formulários
ou entrevistas. Os dados são tabulados e analisados estatisticamente;
§
Estudo de caso: quando se deseja estudar com
profundidade os diversos aspectos característicos de um determinado objeto de
pesquisa restrito;
§
Pesquisa-ação: quando os pesquisadores e os
participantes envolvem-se no trabalho de pesquisa de modo participativo ou
cooperativo, interagindo em função de um resultado esperado;
§
Pesquisa (observação) participante: ocorre por
meio do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para se obter
informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos.
Antes de se
iniciar uma pesquisa científica é necessário refletir sobre a mesma. Assim como
para construir um edifício é necessário antes de fazer a planta, imaginar o
tamanho, o número de andares etc. e então planejar e construir os alicerces, de
acordo com o tipo de edificação, é imprescindível que antes da pesquisa se
elabore um plano, se imagine a abordagem, os tópicos que serão focalizados,
como se pretende conduzir o trabalho etc. Assim, o trabalho de pesquisa é
desenvolvido por etapas, que se constituem num método, num caminho facilitador
do processo, buscando mapear o caminho, evitar muitos imprevistos e esclarecer
os rumos para o próprio pesquisador. Recomenda-se que a pesquisa siga o
seguinte encadenamento:
1.
Planejamento da pesquisa: pré-projeto e
projeto;
2.
Execução: coleta de dados, análise e redação;
3.
Apresentação gráfica: digitação.
PRÉ-PROJETO
Denominada por alguns autores de fase
exploratória do projeto de pesquisa, é a primeira atividade de planejamento,
constituindo-se, sem dúvida, num dos momentos mais importantes. Pode ser dividida em cinco passos básicos:
·
escolha do tema: podem ser utilizados alguns
critérios para ajudar na escolha do tema, como originalidade (mesmo que o
trabalho não seja original deve apresentar alguma novidade, novo enfoque, novos
argumentos ou pontos de vista), relevância (importância ou utilidade), viabilidade (econômica e de tempo), preparo
técnico e existência de fontes;
·
revisão de literatura: embora ao se
escolher um dado tema já seja conhecido algo sobre o mesmo, a releitura
exploratória tem o mérito de aumentar a extensão e a profundidade dos
conhecimentos conhecidos, ajudando a distinguir o secundário do essencial e
facilitando a delimitação do conteúdo dos temas a investigar;
·
problematização: transformação de uma
necessidade humana em problema. O pesquisador deve ter idéia clara do problema
que pretende resolver, da dúvida a ser superada, caso contrário sua pesquisa
correrá o risco da prolixidade, da falta de direção, da ausência de algo para
se resolver. Se o problema é estabelecido de forma clara, ele desencadeará a formulação
da hipótese geral, que será comprovada no desenvolvimento do texto. Ao optar
por uma solução que deseja demonstrar (ou seja, a hipótese, nascida do problema
apontado), tem-se uma tese;
·
seleção /delimitação do assunto: deve-se
escolher o “pedaço” do problema que se
quer ou se precisa estudar para estudá-lo em profundidade. Mesmo que todos os
aspectos sejam considerados importantes, devem ser tratados um por vez e, ao
escolher um deles, abandonam-se ou outros. É uma imposição do método;
·
construção da(s) hipótese (s): é uma solução
provisória que se propõe para o problema formulado. Sendo uma suposição que
carece de confirmação, pode ser formulada tanto na forma afirmativa quanto na
interrogativa. Não há uma norma ou regra fixa para a formulação de hipóteses,
mas deve ser baseada no conhecimento do assunto e na literatura específica que
foi levantada: lança-se uma afirmação a respeito do desconhecido com base no
que se construiu e publicou sobre o tema. A formulação clara das hipóteses
orienta o desenvolvimento da pesquisa. As hipóteses devem ser razoáveis e
verificáveis. Em pesquisas exploratórias e descritivas não há necessidade de
apresentar as hipóteses.
PROJETO
O planejamento da pesquisa científica se
completa com a montagem do projeto de pesquisa, que traça o caminho intelectual
inicial de todo o processo posterior. A coleta de dados e a redação final do
trabalho são planejados aqui. São sugeridos como indispensáveis (devendo estar
absolutamente claros para o pesquisador) o planejamento de sete itens:
·
tema específico: é criado a partir da hipótese.
O tema específico será o título do futuro texto escrito;
·
objetivos (geral e específicos): é a espinha
dorsal do projeto de pesquisa. Não é o que o pesquisador vai fazer (isto se
prevê nos procedimentos), mas o que ele pretende conseguir como resultado
intelectual final de sua investigação. São eles que delimitam e dirigem os
raciocínios a serem desenvolvidos. O objetivo geral será subdividido em tantos
objetivos específicos quantos necessários para o estudo e solução satisfatória
do problema contido no objetivo geral. Cada um dos objetivos específicos será
uma parte distinta da futura redação (um capítulo, um segmento). O enunciado
dos objetivos deve iniciar sempre por um verbo no infinitivo: estudar,
analisar, questionar, comparar, introduzir, elucidar, explicar, contrastar,
discutir, apresentar etc.);
·
justificativa: consiste em apresentar motivos bons o
bastante para o desenvolvimento da pesquisa. O que se pretende é que o leitor
adquira convicção semelhante à do pesquisador: o tema é relevante e abrangente
o bastante para merecer uma investigação científica. Um tema pode ter
importância social, científica ou acadêmica. O desenvolvimento dele pode trazer
benefício direto para a sociedade em geral, ou para um grupo social específico,
ao resolver ou encaminhar a solução para a necessidade ali instalada. Pode
também beneficiar de imediato uma ciência contribuindo com informações para o
avanço de determinado estudo científico. Pode ainda beneficiar o processo
acadêmico, facilitando ou inovando o ensino-aprendizado de um assunto;
·
recursos / material: consiste na
descrição quantitativa de tudo aquilo que se pretende utilizar no
desenvolvimento do trabalho. Planejar os recursos é assegurar, com o maior detalhamento
possível, a suficiência inicial dos itens necessários para a aquisição das
informações desejadas;
·
procedimentos / metodologia: são as
atividades práticas necessárias para a aquisição dos dados com os quais serão
desenvolvidos os raciocínios (previstos nos objetivos específicos), que
resultarão em cada parte do trabalho final. Assim, planeja-se aqui, de forma
concreta, a coleta de dados, que se iniciará ao final do projeto. A descrição
dos procedimentos pode também ser enriquecida por detalhes práticos. Detalha-se
o universo, a amostra, o tipo de tratamento que as informações receberão,
descrevem-se os instrumentos de coleta, a margem de acuidade prevista etc.;
·
cronograma: consiste em relacionar as atividades
ao tempo disponível, ou seja, planejar o tempo em função das atividades
previstas para a conclusão do trabalho proposto;
·
orçamento: quando este item for necessário, devem
ser especificados os recursos humanos e materiais indispensáveis para a
realização do projeto, com uma estimativa dos custos.
EXEMPLO DE ELABORAÇÃO DE UMA
PESQUISA CIENTÍFICA:
Vou dar um exemplo bem simples e
resumido para ajudar na compreensão do que é e como se conduz uma pesquisa
científica clássica, seguindo as orientações de especialistas na área (e a
coerência e bom senso também).
Imaginemos que toda vez que chove, cai
água dentro da nossa sala de reuniões. Este é realmente um problema. Por
que é um problema? Porque indica que há uma imperfeição técnica na construção
do edifício, visto que não deve chover dentro da sala, e isto pode se agravar
mais ainda. Além do mais, quando cai água, molha a mesa que, além de ser local
ao redor do qual nos sentamos para discutir nossos assuntos, é onde ficam
temporariamente depositados documentos relativos ao nosso grupo. Estes três pontos,
entre outros que podem ser elencados, justificam a realização de uma
pesquisa sobre o tema, sendo este, portanto, atual, útil e necessário – não se
pode continuar com chuva caindo dentro da sala.
Qual é o objetivo da pesquisa,
então? Pesquisar por que está chovendo dentro da sala, ou, o que está fazendo
com que chova dentro da sala. Com este objetivo bem claro, vou construir o
caminho por onde vou percorrer para descobrir o que está provocando esta
situação.
Após uma leitura inicial
(exploratória) sobre os fatores que podem provocar esta situação, eu proponho
algumas hipóteses do porquê está chovendo dentro: os dados apresentados
em outros estudos sugerem que pode ser porque há uma telha quebrada, uma
rachadura no teto, infiltração porque as calhas estão entupidas e toda vez que
chove forma uma lagoa em cima do teto etc. É possível partir de uma hipótese
geral principal (se eu souber o que está provocando o problema, eu posso
resolvê-lo) e então propor hipóteses secundárias (a telha, a rachadura, a infiltração).
Dependendo da(s) hipótese(s) que eu me
propor a seguir, será estabelecida uma seqüência de passos para atingir o
objetivo, e a isto se chama metodologia. Então, se a hipótese for a da
telha quebrada, vou traçar passo a passo o que será feito, incluindo revisões
teóricas sobre o assunto. Isto vale para cada hipótese que for investigada.
É importante que o foco seja mantido e
seja coerente do começo ao fim. Fazer uma discussão generalizada,
contextualizando o tema e o problema, é fundamental. Entretanto, os
aprofundamentos teóricos e metodológicos devem ser feitos apenas no que está
diretamente ligado ao problema. Por exemplo, discutir o tipo de revestimento
nas paredes da sala, ou o tipo de iluminação, tem relação com a sala, mas não
com o problema da sala que está sendo investigado, portanto não cabem ser
aprofundados. Entretanto, se a água estiver entrando pela fiação da luz, a
discussão sobre a iluminação pode ser pertinente. Da mesma forma, discutir o
tipo de material do qual é feita a mesa pode ser importante se, por exemplo,
ajudar a justificar o problema: se é um material não resistente à água, em
pouco tempo será estragado, e isto é um bom motivo para se fazer este estudo.
O resultado da pesquisa deve
retornar ao objetivo e ao problema, confirmando ou não a(s) hipótese(s). Assim,
no final da pesquisa, se bem estudada, planejada e executada, eu deverei saber
o que está provocando a chuva dentro da sala. Atenção, pois isto não é regra
geral: às vezes, por mais bem feitas que tenham sido, as hipóteses não são
comprovadas. Se eu seguir a hipótese da telha quebrada unicamente e isto não
for comprovado, o que fazer? Paciência!! Caberá à minha discussão
explicar porque eu segui somente esta hipótese e obtive este resultado.
A conclusão faz um fecho geral da
pesquisa, normalmente de forma sucinta. A partir dos resultados, por exemplo, é
possível se estabelecer perspectivas futuras: se for comprovado que a telha
estava quebrada, pode-se sugerir que a partir de agora não se utilize mais este
tipo de telhas.
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